segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Inquilino novo na A.Bo.Ca

        Nesses meses de agosto e setembro a A.Bo.Ca Espaço de Teatros, espaço cultural que serve como sede da Bololô, do Grupo Carmin e do Coletivo Atores à Deriva tem um novo inquilino: a Tropa Trupe, grupo circense aqui de Natal. 

Atores à Deriva, Bololô Cia. Cênica, Grupo Carmin +  Tropa Trupe

      A Tropa Trupe ficou temporariamente sem sede e está agora ocupando nosso espaço, finalizando a montagem do seu novo espetáculo "A Lenda do Trapezista Cego". Nosso espaço está mudado com a presença da Tropa: chegamos na sala de ensaio todos os dias e vemos o tecido aéreo e o trapézio pendurados no nosso teto - é impossível esquecer que um grupo de circo anda por aqui. Estamos muito felizes de recebê-los em nossa casa. É com imenso contentamento que vemos a produção cultural de Natal se enriquecer e se diversificar. Acreditamos nas parcerias entre grupos para nos fortalecermos e conquistarmos cada vez mais força e poder nessa luta difícil que é viver de arte.
    Para saber mais e ficar por dentro do que a Tropa Trupe anda aprontando, basta visitar o site: http://www.tropatrupe.com/.
    Para saber mais sobre a A.Bo.Ca, clica aqui


   

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Dos presentes que recebemos

     O Retrato do Artista Quando Coisa é um espetáculo feito de presentes: presentes do acaso, do abandono e também do carinho. O cenário é composto por coisas que encontramos na rua, trastes e inutilidades, ou coisas que nós próprios, os atores, abandonamos, coisas que amigos e espectadores abandonaram conosco, para virar poesia. 
      Aceitamos entulho para poema: coisas inúteis que servem para virar poesia. É sempre com grande alegria que recebemos cada coisinha abandonada. E recebemos também outros tipos de presentes: palavras. Sexta-feira passada (dia 01 de agosto) apresentamos o Retrato do Artista Quando Coisa na mostra local do Palco Giratório em Natal e fomos presenteados com palavras encantadas e encantadoras de uma das espectadores, Michelle Ferret. Ficamos tão agradecidos que compartilhamos aqui as suas (des)palavras: 

Foto-presente de Paulo Fuga


"Os Deslimites da Palavra e do Tempo do Ser
Ser convidado a entrar no vazio, no inóspito, no abismo de nós mesmos. É assim quando invadimos o espaço sagrado do “Retrato do Artista quando Coisa” da Cia Bololô. Inspirada livremente na obra do poeta Manoel de Barros, quatro atores (Paulinha Medeiros, Luana Menezes, Arlindo Bezerra e Rodrigo Silbat) se despem do cotidiano e se vestem de imensidão. Um guarda chuva é transformado em puxador de estrelas ou apanhador de nuvens, um funil é usado como esticador de horizontes e até uma pasta vazada e vazia se torna um pedaço de infinito. Junto com o público, eles abrem as janelas de nossas gaiolas seladas pelas leis, regras e normas e iluminam com lanternas coloridas o imaginário, o que existe de mais bonito ao redor que são os sentidos. Manoel está presente o tempo inteiro, desde o fim até o início quando o nada é tudo e tudo pode ser o que quisermos, até ninguém. O cenário é construído a cada apresentação, quando os próprios espectadores doam objetos pessoais inutilizados. Nesse relicário, eles constroem o escritório de ser inútil ou lugar em que Manoel diz em que são jogadas as fitas cassetes que não tocam mais, as pontinhas de lápis usados, os pneus de caminha já idos. No Retrato tudo cabe, desde pedaços de plásticos até manequins sem braços utilizado como fôrma de gelo ou suporte ara pensamentos contrariados. O Retrato do Artista Quando Coisa é um alento nesse mundo tão frio. É um recorte de uma imensidão que esquecemos muitas vezes, naqueles momentos em que o tempo parece parar e te grita “vem”, “aproveita”, a vida é isso, e é nada. Somos um nada ali juntinhos, somos Manoel e esse desconcerto natural da vida, somos cada pedacinho de estrelas desaparecidas. Ao final a emoção tomou conta de mim, quando lembrei que hoje, Manoel de Barros depois de perder o segundo filho, Pedro, se isolou, ficou caladinho, quietinho esperando o vento chegar. E no cintilar das latas o som dele me arrancou do chão. E só resta agradecer sua existência, sua composição de sons e silêncios que nos rasgam, inquietam e reviram. Como ele mesmo diz “Só uso a palavra para compor o meu silêncio”. E feliz que exista a Bololô, que nos leva a um lugar sagrado, muitas vezes esquecido, calado e que quer acordar a qualquer momento.
Gratidão meninos! Vocês são do mato, do amor, do mundo! Vida Longa!"

      E devolvemos o agradecimento a Michelle e todos aqueles que se permitiram olhar de azul e embarcaram na viagem pela poesia de Manoel de Barros.